quarta-feira, 1 de abril de 2015

OS ATRIBUTOS DE DEUS PARTE 1 COMPLETA

ATRIBUTOS DE DEUS
Parte 1(a)
Teologia e Religião
O estudo da teologia é de fundamental importância na vida do cristão. Todo cristão é, em algum grau, um teólogo. Não somos teólogos no sentido formal, mas ao estudarmos a Bíblia estamos fazendo teologia. “O que dá valor à vida é ter um grande objetivo, alguma coisa que prenda nossa imaginação e conserve nossa fidelidade; e isto o cristão tem, como ninguém mais pode tê-lo. Pois haverá objetivo mais alto, mais exaltado e mais coercitivo do que conhecer a Deus?” (J.I.Packer). A teologia deve ser a base para o conhecimento do homem (antropologia). Estudar teologia não é estudar religião. Apenas através do estudo das religiões, a antropologia se tornará a base da teologia. Não podemos formar conceitos de Deus a partir do homem, mas precisamos conhecer o homem a partir daquilo que Deus diz. J.P. Wiles assim resume o início das Institutas de João Calvino: “A sabedoria verdadeira e substancial consiste quase inteiramente em duas coisas: o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos”. O conhecimento de nós mesmos, obrigatoriamente, deve se iniciar naquilo que Deus diz a nosso respeito. P. ex.: o homem nasce com uma natureza corrompida, tende sempre para o mal e não pode buscar a Deus por si mesmo (Rm 3.10-18). Segundo R. C. Sproul, religião é um tipo de comportamento. As religiões são manifestações externas de crenças, que se revelam sob a forma de rituais e comportamentos específicos. A própria Bíblia se utiliza da palavra “religião” para descrever comportamentos e para se referir a grupos de mesma crença (At 17.22; 25.19; 26.5; Tg 1.26,27). Em geral as pessoas são religiosas e parecem sentir-se bem seguindo uma religião. Todas as culturas têm sua religião, que são tentativas de agradar ou aplacar a ira dos seres sobrenaturais em que acreditam. A consciência da própria limitação e impotência faz com que os mais variados grupos étnicos tenham suas concepções a respeito de seres superiores a eles mesmos. Deus, na realidade, colocou no coração do homem a necessidade de adoração.

Parte 1 (b)
Teologia
Teologia é o estudo de Deus e das coisas relacionadas a Deus. Ela abrange os mais variados assuntos que tratam de coisas relacionadas a Deus e do Seu relacionamento com a Sua criação. O estudo desses assuntos nos mostra como Deus pensa e age, e nos ensina, dessa maneira, alguma coisa a respeito de como Ele é. A teologia engloba tópicos como: pecado, escrituras, criação, queda, ser humano, igreja, justificação, graça, ordenanças, escatologia, etc. Todavia, temos, dentro da teologia em geral, a chamada teologia propriamente dita. Esta trata especificamente do Ser de Deus, de quem e de como é Deus, e abrange o estudo dos atributos de Deus. Na doutrina reformada, a teologia propriamente dita, que estuda Quem e como Deus é, permeia e dá suporte a todas as outras doutrinas. Por exemplo, o conceito que se tem de onisciência determinará toda a nossa maneira de ver todos os outros tópicos da teologia. É relativamente simples declarar que Deus conhece todas as coisas. Mas, Deus conhece todas as coisas porque tem a capacidade de prever o futuro ou porque determinou todas as coisas? Para responder a essa pergunta precisamos conhecer Deus, isto é, saber também a respeito de outros aspectos do próprio Deus. Não podemos dissociar Seus atributos. Deus é soberano, isto é, Deus faz todas as coisas conforme a Sua vontade. Ele tem absoluta soberania sobre toda a Sua criação. Na realidade, Ele determina aquilo que, no tempo, ainda está para acontecer.

Parte 1 (c)
Reverência e Comunhão
Antes de se iniciar o estudo sobre o Ser de Deus, sobre Quem e como Ele é, é imprescindível termos consciência de que estamos estudando a respeito do Criador de todas as coisas, e, portanto, é a Pessoa que está acima de tudo mais no universo, o Ser mais importante que existe e, assim, não pode haver objeto de estudo e consideração que mais mereça o nosso maior respeito e reverência sob todos os aspectos. Precisamos descalçar nossos pés, pois estamos pisando em terra santa! (Êx 3.5). Nunca nos esqueçamos de que só podemos saber de Deus aquilo que Ele mesmo decidiu revelar a respeito de Si mesmo. Alguma revelação de Deus pode ser encontrada na natureza (Rm 1.19,20) e uma revelação muito maior, e necessária à comunhão com Ele, é encontrada na Sua Palavra (II Tm 3.16,17; II Pe 1.20,21). Pelo conhecimento obtido através dessa revelação, podemos, por meio de Jesus Cristo, nos aproximar mais de Deus (Tg 4.8) e ter comunhão com Ele. Todas as coisas foram criadas para a glória de Deus. Todavia, em particular, a revelação de Deus tem como alvo principal a comunhão dos Seus escolhidos com Ele. Isso significa que o alvo de Deus ter-Se revelado a nós é que confiemos nEle e nos relacionemos pessoalmente com Ele. Assim sendo, não devemos procurar conhecer mais a Deus tendo como alvo apenas a constatação de como e de Quem Ele é ou a apreensão intelectual dos Seus atributos ou perfeições. Por isso, a Pessoa de Deus deve ser alvo frequente de meditação e constante reflexão como atos de adoração a Ele!

Parte 1 (d)
Cognoscível mas não completamente compreensível
Em primeiro lugar é importante termos em mente que ninguém pode compreender completamente Deus e nenhuma criatura pode conhecer tudo a respeito do Criador. Deus é parcialmente cognoscível ou conhecível, mas não é compreensível (Rm 11.33; I Tm 6.16). Deus pensa pensamentos que nós não somos capazes de pensar, Ele pensa aquilo que não podemos compreender (Is 55.8,9). Não podemos, realmente, conhecer tudo sobre Deus porque só podemos ter uma idéia do desconhecido por meio de comparações com aquilo que conhecemos, e Deus não é comparável a nada que conhecemos. Por outro lado, a Bíblia diz que podemos e precisamos conhecer a Deus (Mt 11.27; Jo 17.3). A nossa criação à imagem e semelhança de Deus não nos permite saber como Deus é, mas apenas nos permite ter uma fraca idéia de algumas características humanas que se assemelham, de longe, a alguns aspectos do Seu Ser. Certamente, sendo infinito, Deus apresenta características que nós não conseguimos nem imaginar que possam existir. Todavia, podemos conhecer algo a respeito dEle por meio de características que Ele mesmo nos diz que compartilhamos, ainda que fracamente, com o Seu Ser e, também, por aspectos daquilo que Ele nos revela sobre Si mesmo. O simples conceito de que Deus é, em parte, cognoscível, mas não é compreensível, tem grandes implicações para a nossa atitude futura a respeito daquilo que estudamos a respeito dEle. Creio que praticamente todos os cristãos concordam em que Deus, embora cognoscível, não seja compreensível pela mente humana. Isso implica em que muitas das coisas que Ele nos revela sobre Si mesmo podem estar além da nossa compreensão. Todavia, é extremamente comum encontrarmos irmãos que têm dificuldade de aceitar certas revelações de Deus, como, por exemplo, a existência do Deus único em três Pessoas, a soberania absoluta de Deus e a responsabilidade do homem ou as naturezas divina e humana de Jesus. Parece que podemos ver que, separadamente, todas são verdades reveladas nas Escrituras, mas muitos têm dificuldade de aceitá-las como verdadeiras ao mesmo tempo. Quando alguém questiona esse tipo de revelação está, na verdade, dizendo, implicitamente, que Deus não é incompreensível, mas que nós deveríamos ser capazes de compreender tudo o que Ele nos revela. Muitos, sem o perceber, formam um conceito de Deus a partir de suas próprias observações e conclusões, deixando de lado aquilo que Deus diz a respeito de Si mesmo. Há os que, por não aceitarem que um Deus infinitamente bom e infinitamente poderoso pudesse permitir que houvesse tanta injustiça no mundo, chegam à conclusão de que Deus não é justo, ou não é bom, ou não é todo-poderoso ou, pior ainda, podem concluir que Deus não exista. Todas essas atitudes refletem a não crença na incompreensibilidade de Deus e na possibilidade de que Ele tenha pensamentos que não podemos ter (Is 55.8,9). Pelo que vimos acima, podemos compreender a importância do conceito que formamos a respeito de Deus como base para todo o estudo do restante da teologia. Daí ser indispensável o estudo cuidadoso daquilo que Deus revela a respeito de Si mesmo. Precisamos, todavia, estar atentos para não formarmos um conceito de Deus diferente daquilo que Ele mesmo nos revela. “Entre os pecados para os quais se inclina o coração humano, nenhum é mais odioso para Deus do que a idolatria; pois no fundo a idolatria difama o caráter divino. O coração idólatra entende Deus de maneira diferente do que Ele realmente é... A essência da idolatria está nas idéias indignas que temos a respeito de Deus... Os conceitos errados a respeito de Deus não são apenas as fontes das quais jorram as águas poluídas da idolatria – são, em si mesmos, idólatras... A mais pesada responsabilidade da Igreja em nossos dias está em purificar e elevar o seu conceito de Deus” (A.W.Tozer).

Parte 1 (e)
Transcendência e Imanência
 Creio que o ponto de partida para termos um correto conceito de Deus é considerarmos a Sua relação com a criação. Resumidamente, podemos dizer quer a Bíblia deixa claro que Deus é transcendente e é imanente. Conforme sintetiza H. Bavinck, a transcendência de Deus é Sua distinção e Sua elevação sobre todo o mundo e a imanência de Deus é Seu contato e Sua habitação no mundo. Em outras palavras, dizer que Deus é transcendente é dizer que Ele é distinto e mais elevado do que a Sua criação, e dizer que Ele é imanente, é dizer que Ele está junto, participa e dirige a Sua criação. O Ser de Deus está fora e além do universo criado, ao mesmo tempo em que Sua presença Se faz sentir em cada acontecimento no universo (Is 57.15; Jr 23.23,24; At 17.24-28). Novamente, podemos ver aqui a importância do nosso conceito a respeito de Deus como base daquilo em que acreditamos. Se negarmos a transcendência de Deus, cairemos no panteísmo, em que Deus é identificado com a criação. Portanto, se Deus não é distinto da Sua criação, então a Sua criação é deus. Se negarmos a imanência de Deus, cairemos no deísmo, que diz que Deus criou o mundo e, depois, o deixou seguindo leis por Ele determinadas e não mais participa dele ou interfere em seu curso. Se negarmos tanto a transcendência como a imanência de Deus, cairemos no ateísmo, em que Deus não é distinto nem participa de Sua criação, pois simplesmente não existe. A posição teísta ensina claramente tanto a transcendência como a imanência de Deus.

Parte 1 (f)
O que é Deus?
Antes de analisarmos os atributos de Deus é importante estarmos cientes de que, segundo Hodge, as Suas perfeições são, na realidade, atributos sem os quais Ele deixaria de ser Deus. Por isso, todos eles são igualmente importantes. Não podemos considerar um ou outro dos Seus atributos como algo a que deveríamos dar maior ênfase do que aos demais. Quanto aos seres humanos, são eles caracterizados por atributos ou qualidades permanentes e por acidentes ou acessórios. P. ex., uma pessoa normal não pode deixar de apresentar consciência de si ou inteligência, que são considerados atributos, sem os quais ela poderia deixar de ser considerada um ser humano normal. Todavia, ela pode apresentar também características acessórias, como p. ex. honestidade e bondade, sem as quais ela ainda seria considerada um ser humano normal, mesmo sendo desonesto e mau. Porém, nenhuma característica de Deus pode ser modificada, pois, nesse caso, Ele deixaria de ser o único Deus verdadeiro e real. Alguém poderia imaginar um outro “deus”, com outras características, mas o único Deus verdadeiro é como sempre foi e sempre será, com as perfeições que Ele decidiu nos revelar e com outras que nem sequer podemos imaginar! A pergunta nº 4 do Breve Catecismo de Westminster é: “O que é Deus?”. E a resposta é a seguinte: “Deus é um Espírito infinito, eterno e imutável, em Seu Ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade”. É uma resposta simples, mas que nos dá uma boa idéia a respeito de Deus e é útil para um início de estudo a Seu respeito. Para Hodge, ela provavelmente seja “a melhor definição de Deus já elaborada por um homem”, Deus é espírito (Jo 4.24). O espírito é uma substância diferente da matéria. Entendemos por substância algo que tenha existência e se manifesta, isto é, apresenta propriedades ou atributos por meio dos quais podemos caracterizá-la. A substância material é diferente da substância espiritual. Uma substância e seus atributos são inseparáveis. Cada um deles é conhecido pelo outro. Uma substância sem atributos não tem existência. Não se pode ter nenhuma idéia a respeito de uma substância a não ser por suas propriedades ou atributos. Conhecemos a matéria pelas suas propriedades. O espírito não apresenta as mesmas propriedades da matéria. Nosso espírito ou “alma é uma substância individual... cada subsistência individual que pensa e sente, que possui o poder de autodeterminação, é uma pessoa...o espírito não é matéria, e nem matéria é espírito... atributos diferentes e incompatíveis não podem pertencer à mesma substância” (C.Hodge). Portanto, além da matéria nós, seres humanos, somos constituídos por algo que não conseguimos caracterizar claramente, mas do qual conhecemos algumas propriedades, a nossa alma. Pela própria consciência da nossa mente podemos perceber algumas características daquilo que consideramos uma pessoa. Como vimos, um espírito pensa, quer e sente. Inteligência, vontade, sensibilidade e autoconsciência são atributos de um espírito e caracterizam uma pessoa. Todos nós, por experiência, conhecemos algumas das propriedades da matéria e, também, algumas propriedades da nossa alma, como sentimentos, inteligência, imaginação, etc. Todavia, nunca empregamos, literalmente, palavras que caracterizam propriedades da matéria para nos referirmos à nossa alma, como p. ex. forma, tamanho ou cor. Nós não imaginamos nossa alma como sendo triangular, alta ou verde. Sabemos que não podemos caracterizá-la por propriedades da matéria. É interessante o fato de muitos não acreditarem que Deus exista pelo fato de que Sua existência não pode ser demonstrada por equipamentos ou comprovada pelos nossos sentidos. Não se dão conta de que somente a matéria ou a energia podem ser detectadas dessa maneira. Mas, Deus é espírito. O interessante é que essas mesmas pessoas não duvidam da existência da sua própria mente ou da mente das demais pessoas. Mas, a mente também é algo imaterial que não pode ter sua existência comprovada, a não ser pelos efeitos da sua ação. Exatamente o mesmo acontece com as ações de Deus no mundo material. Considerar a mente como sendo o produto da atividade cerebral não é correto, pois ela, na verdade, atua sobre o cérebro e lhe dá os direcionamentos conforme a sua própria vontade. Após a ressurreição, Jesus Cristo apareceu aos discípulos e eles ficaram “surpresos e atemorizados”, pois pensavam estar vendo um espírito. Jesus os acalma e diz: “Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e verificai, porque um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho” (Lc 24.37,39). A palavra aqui empregada (pneuma) é a mesma que aparece em Lc 23.46: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!”. Jesus diz que um espírito não tem carne nem ossos, que são constituídos de matéria. Deus é espírito. “Deus é imaterial. Nenhuma das propriedades da matéria pode ser-lhe atribuída... e Ele é uma pessoa – um agente autoconsciente, inteligente e voluntário” (C. Hodge).

Parte 1 (g)
Atributos
A definição do Breve Catecismo diz, também que a natureza de Deus é uma substância ou essência infinita, eterna e imutável. Esses seriam alguns dos atributos, perfeições ou virtudes de Deus (I Pe 2.9). Sem nos preocuparmos se a palavra atributo é adequada para descrever propriedades que nos ajudariam a conceber a pessoa de Deus, talvez seja conveniente ficarmos com a colocação de Tozer: “Um atributo divino é aquilo que Deus, de alguma forma, tem revelado como sendo verdadeiro a Seu próprio respeito”. Apenas para maior facilidade de compreensão, os atributos de Deus têm sido classificados de várias maneiras. Por exemplo:
Atributos:
 • Negativos: simplicidade, infinitude, eternidade, imutabilidade.
• Positivos: poder, conhecimento, santidade, justiça, bondade, verdade.
• Absolutos: que pertencem somente a Deus.
• Relativos: que implicam em relação com as coisas criadas.
• Naturais: poder, conhecimento, eternidade, imutabilidade, infinitude.
• Morais: santidade, justiça, bondade.
• Comunicáveis: partilhados pelos seres humanos (mais partilhados).
• Incomunicáveis: não partilhados pelos seres humanos (menos partilhados).
 A classificação dos atributos como comunicáveis e incomunicáveis tem sido, historicamente, mais utilizada pelos teólogos reformados. Como todas, essa também apresenta falhas. Colocamos abaixo essa classificação sem nenhum julgamento em relação às demais, mas apenas para facilidade de compreensão e pela utilização das definições simples que constam da Teologia Sistemática de Wayne Grudem:
1)Atributos Incomunicáveis
 Independência: “Deus não precisa de nós nem do restante da criação para nada; porém, tanto nós quanto o restante da criação podemos glorificá-lo e dar-lhe alegria”.Existência autônoma ou asseidade (do latim a se, “de si mesmo” ou “por si mesmo”).
 Imutabilidade: “Deus é imutável no seu ser, nas suas perfeições, nos seus propósitos e nas suas promessas; porém, Deus age e sente emoções, e age e sente de modos diversos diante de situações diferentes”.
Inalterabilidade (Não impassividade)
Eternidade: “Deus não tem princípio nem fim nem sucessão de momentos no seu próprio ser, e percebe todo o tempo com igual realismo; ele, porém, percebe os acontecimentos no tempo e age no tempo”.
Onipresença: “Deus não tem tamanho nem dimensões espaciais e está presente em cada ponto do espaço com todo o seu ser; ele, porém, age de modos diversos em lugares diferentes”.
Unidade: “Deus não está dividido em partes; porém percebemos atributos diversos de Deus enfatizados em momentos diferentes”. Simplicidade (não complexo, não composto). Infinitude: CH – “Espaço, tempo e infinidade estão entre os problemas mais difíceis para o pensamento humano”. “A infinitude de Deus, relativamente ao espaço, é sua imensidão ou onipresença; relativamente à duração, é sua eternidade”.
2) Atributos Comunicáveis
Espiritualidade: “Deus existe como ser que não é feito de matéria, que não tem partes nem dimensões, é incapaz de ser percebido pelos nossos sentidos corpóreos e mais excelente do que qualquer outro tipo de existência”.
 Invisibilidade: “A essência integral de Deus, todo o seu ser espiritual, jamais poderá ser vista por nós, embora Deus se revele a nós por meio de coisas visíveis, criadas”.
Onisciência: “Deus conhece plenamente a si mesmo e todas as coisas reais e possíveis num ato simples e eterno”.
Sabedoria: “Deus sempre escolhe as melhores metas e os melhores meios para alcançar essas metas”.
Veracidade: “Deus é o Deus verdadeiro, e todo o seu conhecimento e todas as suas palavras são ao mesmo tempo verdadeiros e o parâmetro definitivo da verdade”. Fidelidade ou fidedignidade.
Bondade: “Deus é o parâmetro definitivo do que é bom e tudo o que Deus é e faz é digno de aprovação”. 
Amor: “Deus se doa eternamente aos outros”. Misericórdia, Graça, Paciência: Misericórdia: é a bondade de Deus para com os angustiados e aflitos. Graça: é a bondade de Deus para com os que só merecem castigo. Paciência: é a bondade de Deus no sustar a punição daqueles que persistem no pecado por determinado tempo.
 Santidade: “Deus é separado do pecado e dedica-se a buscar a sua própria honra”. Justiça: “Deus sempre age segundo o que se conforma com o seu próprio caráter moral e ele mesmo é o parâmetro definitivo do que é justo”.
 Retidão. Ira: “Deus odeia intensamente todo o pecado”.
Zelo: “Deus busca continuamente proteger a sua própria honra”.
 Vontade: “Deus aprova e decide executar todo ato necessário para a existência e para a atividade de si mesmo e de toda a criação”.
 Liberdade: “Deus faz tudo o que lhe apraz”.
Onipotência: “Deus tem poder para fazer tudo o que for da sua santa vontade”.
Soberania Perfeição: “Deus possui com excelência absolutamente todas as qualidades e não carece de nenhum aspecto dessas qualidades que lhe seja desejável”.
Bem-aventurança: “Deus se deleita plenamente consigo mesmo e com tudo o que reflete o seu caráter”.
Beleza: “Deus se revela como a soma de todas as qualidades desejáveis”. Glória: “É a manifestação visível da excelência do caráter de Deus”. (“É o brilho criado que circunda a revelação do próprio Deus”).
Paz: “No seu ser e nos seus atos Deus está apartado de toda confusão e desordem; porém, é incessantemente ativo em atos simultâneos, bem ordenados e plenamente controlados”. Ordem.
Parte 1 (h)
Considerações a respeito de atributos incomunicáveis de Deus
Como vimos no item “Cognoscível mas não completamente compreensível”, Deus pensa pensamentos que não conseguimos pensar, pois somos absolutamente incapazes de compreender o que se passa na mente de Deus. Deus não é comparável a nada que conhecemos e só podemos conhecer a Seu respeito aquilo que Ele mesmo decidiu revelar sobre Si. Assim sendo, embora a classificação dos Seus atributos como incomunicáveis e comunicáveis apresente falhas, como todas as outras, e seja, portanto, criticável, creio que a própria compreensibilidade dos atributos chamados comunicáveis seja maior do que a dos incomunicáveis. Aqueles atributos que compartilhamos em maior grau com o Criador nos são mais compreensíveis do que aqueles que praticamente só dizem respeito a Ele. Por isso, faremos, a seguir, algumas considerações a respeito dos atributos chamados de incomunicáveis de Deus, apenas para fornecer algum material para meditação por parte dos irmãos. É absolutamente fundamental que tenhamos sempre em mente que Deus é incompreensível. Todos estamos cientes de que nossas mentes finitas são incapazes de apreender o Infinito. Portanto, além de outras doutrinas já mencionadas, creio que nenhum dos atributos incomunicáveis de Deus possa ser por nós realmente bem compreendido. E essa noção é fundamental para que tenhamos a atitude correta diante de revelações que Deus nos faz a respeito de Si mesmo.

Parte 1 (i)
A unidade de Deus
Esse atributo é também chamado de simplicidade, obviamente não no sentido de facilidade de compreensão ou apreensão, mas significando que Deus é não complexo ou não é composto de partes. Sua essência é una e indivisível. Deus não é composto pela soma de todos os Seus atributos. Cada atributo de Deus corresponde à verdade em relação a toda a Sua essência. Os vários atributos através dos quais procuramos compreender algo sobre a Pessoa de Deus não podem ser entendidos separadamente.
Além dos atributos que dizem respeito especificamente a Deus, segundo Bavinck, os Seus atributos comunicáveis são muito numerosos e, se “quiséssemos tratar deles adequadamente nós teríamos que fazer uso de todos os nomes, imagens e comparações que as Sagradas Escrituras usam... A Escritura usa todo o mundo orgânico e inorgânico para fazer com que Deus seja real para nós, e compara-o com um leão, uma águia, um sol, um fogo, uma fonte, um escudo, e assim por diante”. Todavia, todas as comparações servem apenas para nos dar uma idéia do Ser uno e indivisível de Deus.
Como já vimos (Breve Catecismo de Westminster), Deus é Espírito infinito, eterno e imutável. Sendo Deus uno e indivisível, essas qualificações referem-se tanto ao Seu ser como a todas as Suas perfeições. Portanto, a justiça de Deus é infinita, eterna e imutável; o amor de Deus é infinito, eterno e imutável; a sabedoria de Deus é infinita, eterna e imutável; a santidade de Deus é infinita, eterna e imutável; e assim todas as Suas demais perfeições.
Sabemos, entretanto, que os atributos de Deus que compartilhamos em parte com Ele, tais como os mencionados acima, todos eles apresentam, em nós, dimensões e importância variáveis no tempo e conforme as circunstâncias.
Assim sendo, nenhum dos atributos de Deus é maior ou mais importante do que outro. É comum ouvirmos de pessoas que enfatizam mais um aspecto de Deus do que outro. Muitos dão extrema importância ao amor de Deus (I Jo 4.8), relegando a segundo plano Seus demais atributos. Tendo em vista a unidade de Deus, esse enfoque é completamente inadequado. Não podemos ressaltar o aspecto de Deus que mais nos agrada ou interessa, pois todas as Suas perfeições são igualmente infinitas, eternas e imutáveis.
“Portanto, não há atributo que se possa destacar como mais importante, e é o próprio Deus em todo o Seu ser que é de importância suprema, e é o próprio Deus em todo o Seu ser que devemos buscar conhecer e amar” (Grudem).
Não vamos abordar aqui a doutrina da Trindade, mas tenhamos em mente, também, que o verdadeiro Deus, conforme Ele Se revela na Sua Palavra, é um só em três Pessoas (Dt 6.4; Mt 28.19; Jo 20.28; At 5.4; Tt 2.13; Tg 2.19). Desde os primeiros séculos da nossa era, os cristãos “criam que o único Deus se revela em três pessoas distintas e coeternas” (Ferreira&Myatt). No Credo de Atanásio (293-373) há uma afirmação bastante clara a esse respeito: “Nós adoramos um Deus na Trindade, e a Trindade na Unidade, sem confundir as pessoas e sem dividir a substância”. Em geral mencionam-se o Islamismo, o Judaísmo e o Cristianismo como religiões monoteístas, muitas vezes sugerindo que as três adoram o mesmo Deus. Todavia, o conceito de Deus difere bastante entre elas.
 O Cristianismo é a única religião que adora o Deus único em três Pessoas! Como vimos, o Ser de Deus, único em três Pessoas, é absolutamente incompreensível para a mente humana.
“Algum dia, compreenderemos melhor a Deus, mas, mesmo então, não o compreenderemos totalmente” (Erickson).

Parte 1 (j)
A independência de Deus
Os teólogos dizem que Deus é independente e necessário. “Deus é tudo o que possui e é a fonte de tudo o que Suas criaturas possuem... é independente no sentido de que Ele não é determinado por nada e tudo é por Ele determinado” (Bavinck). Deus é autoexistente, isto é, não provém de nada anterior a Ele mesmo (Gn 1.1; Ex 3.14). Afirma-se que Ele é a Causa não causada, que é a Causa primária ou que é Sua própria causa. Em resumo, Ele é “aquele que não foi causado” (Erickson). Contrariamente a todos os seres criados, que têm sua existência sustentada pelo Criador, Deus existe desde a eternidade passada e Sua existência não deriva de nada fora de Si mesmo. “Ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais”, porém não necessita de nada de nenhuma de Suas criaturas “...como se de alguma coisa precisasse” (At 17.25). “Todos esperam de ti que lhes dês de comer a seu tempo... se lhes cortas a respiração, morrem e voltam ao pó” (Sl 104.27,29). Portanto, Deus é independente, pois não deve Sua existência a nada fora de Si mesmo, e é necessário, pois sem Seu sustento contínuo a criação não poderia subsistir. Para nós é impossível imaginar um Ser que nunca tenha tido início, que exista sem que nenhuma causa O tivesse originado. Nosso mundo é, todo ele, regido por causas e efeitos. Tudo o que conhecemos foi causado, tem princípio, tem uma origem. Mas, Deus originou tudo o que existe fora de Si mesmo e não foi originado por nada. Nada existe anterior a Ele, nem acima dEle. Ele é o Ser supremo do universo, que foi criado por Ele e por Ele subsiste. Por ser diferente de tudo o que conhecemos, é impossível, para nós, compreendê-Lo. Cabe-nos agradecer por Sua revelação de como Ele é e adorá-Lo como Ele é!
Parte 1 (l)
A infinitude de Deus: Eternidade e Onipresença
Segundo Hodge, “espaço, tempo e infinidade estão entre os problemas mais difíceis para o pensamento humano”. “A infinitude de Deus, relativamente ao espaço, é sua imensidão ou onipresença; relativamente à duração, é sua eternidade”. Convém ter em mente que a infinitude de Deus não se limita apenas a espaço e tempo, uma vez que Sua infinitude abrange todo o Seu ser e também todos os Seus atributos. Seu amor, Sua santidade, Sua sabedoria, Sua ira, Sua justiça, etc. são todos infinitos.
A eternidade é realmente uma das coisas mais difíceis para a mente humana conceber. Só Deus é eterno; só Deus “habita a eternidade” (Is 57.15); “de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Sl 90.2). É interessante notar a expressão utilizada pelo Espírito Santo ao Se referir a Melquisedeque, dizendo que ele “não teve princípio de dias, nem fim de existência”, e que “foi feito semelhante ao Filho de Deus” (Hb 7.3). Calvino ressalta que ele era um “tipo de Cristo” e que “ao mostrar-nos Melquisedeque como alguém que nunca nasceu e que nunca morreu, a Escritura está retratando a verdade de que, para Cristo, não existe nem começo nem fim”. “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1.1). Deus não teve princípio nem terá fim!
Absolutamente tudo o que conhecemos teve um começo, por isso é extremamente difícil conceber que algo ou alguém possa não ter tido um início. A matéria e a energia não são eternas. Só Deus o é. Matéria e energia foram criadas. “Pela fé, entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem” (Hb 11.3). Todo o universo foi formado unicamente pela palavra de Deus.
Obviamente, pode-se argumentar que, se energia é uma propriedade que permite a realização de atividade ou trabalho, então Deus, antes da criação do mundo, pelo eterno poder que tem de realizar tudo o que Lhe apraz, já possuía energia, portanto esta, existindo desde sempre, seria eterna. Todavia, a energia, conforme a conhecemos, está estreitamente vinculada à matéria, e, nas transformações que ocorrem entre as suas várias formas, ela nunca é criada ou perdida dentro de um sistema fechado. A massa (matéria) de um corpo pode se transformar em energia, mas o total de matéria e energia de um sistema permanece o mesmo. Quando dizemos que matéria e energia não são eternas, estamos apenas dizendo que a matéria e a energia, tais quais as conhecemos, intrinsecamente relacionadas entre si no sistema que conhecemos como universo, foram criadas juntamente com ele, e não existem desde a eternidade passada.
Embora seja extremamente difícil conceituar tempo e espaço, todos nós temos uma noção do que eles sejam. Como toda a criação está sujeita aos parâmetros de tempo e espaço, é para nós praticamente impossível conceber algo ou alguém que não esteja sujeito a esses parâmetros, isto é, que estejam fora do tempo e do espaço. Vamos pensar um pouco sobre tempo e espaço, de uma maneira extremamente simples e, certamente, bastante imprecisa, apenas para refletirmos um pouco a respeito do assunto.
Conforme são entendidos comumente pelas pessoas, o tempo e o espaço surgiram com a matéria. Eles existem sempre com referência à matéria. O espaço seria a distância entre pontos, a distância entre objetos materiais ou a área ou volume circunscritos entre determinados limites materiais. Se não temos a matéria como referência, ainda que imaginária, perdemos a noção de espaço.
 “O tempo é um meio contínuo e indefinido no qual os acontecimentos parecem suceder-se em momentos irreversíveis” (A.B.H. Ferreira).
O tempo seria detectado pelas alterações causadas na matéria, que pode ser diferente em diferentes momentos. O tempo nos dá a noção de passado, presente e futuro, pois o estado e as circunstâncias da matéria variam em momentos sucessivos. Há definições que contrapõem o tempo à eternidade ou que inferem as alterações por ele causadas na matéria. Ex.: tempo - “duração limitada, por oposição à idéia de eternidade”; “meio indefinido onde se desenrolam, irreversivelmente, as existências na sua mutação...” (Novo Dicionário da Língua Portuguesa)
Todavia, creio que o tempo e o espaço devam ter surgido não com a matéria, especificamente, mas com a criação, pois os seres espirituais, como parte da criação, também devem estar sujeitos aos parâmetros de espaço e tempo (Dn 9.21-23; Ap 7.1,9;8.1;11.2,11;14.6,17,18;15.5;17.1;18.1;19.1;20.1;21.9).
Como tudo que conhecemos está sujeito a espaço e tempo, temos dificuldade em imaginar um Ser que existe fora deles. Todavia, dizemos que Deus está fora do espaço e do tempo, no sentido de que Ele existia antes da criação e tudo, fora do Ser de Deus, foi criado por Ele. Como nossa noção de espaço e tempo estão obrigatoriamente ligadas à criação, dizemos que Deus existe fora deles. “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1) e “o universo foi formado pela palavra de Deus” (Hb 11.3).
 Aparentemente, seria mais fácil conceber a onipresença do que a eternidade de Deus. Todavia, creio que o conceito bíblico de onipresença seja tão difícil para a mente humana quanto o de eternidade. Segundo Grudem, “Deus não tem tamanho nem dimensões espaciais e está presente em cada ponto do espaço com todo o seu ser”. A onipresença não é meramente física, como Deus ocupando todos os lugares do espaço. Todavia, para que tenhamos alguma idéia do que seja a Sua onipresença, o Senhor diz: “Porventura, não encho eu os céus e a terra?” (Jr 23.24).
Às vezes, na tentativa de dar uma remota idéia de onipresença, tentam compará-la com o ar que, onde vivemos, estaria praticamente em toda parte. Todavia, sem considerar os lugares onde o ar não está presente, essa ilustração é muito equivocada, pois o ar que está num lugar não está em outro. As moléculas que estão num lugar não estão em outro. Mas, “Deus está presente em cada ponto do espaço com todo o Seu ser”. Portanto, Deus está todo Ele, presente, em todo lugar, o tempo todo!
Dagg diz que “a Deidade inteira está presente em toda a parte”, que Deus “é capaz de estar totalmente presente, ao mesmo tempo com cada uma de Suas criaturas, sem nenhuma divisão de Sua essência e sem a remoção de um lugar para outro”. Dagg faz uma outra comparação que, embora interessante, também apresenta falhas, como ele mesmo aponta. Diz ele que podemos afirmar que o tempo “é algo onipresente; pois o mesmo momento ocorre na Europa e nas Américas, em Saturno ou bem no interior da Terra”. Mas, como ele mesmo diz, “o tempo tem a sua medida, e um momento de tempo não é a mesma coisa que a eternidade”. Além disso, nosso conceito de tempo tem sido modificado ao longo do tempo!
Em resumo, a Bíblia diz que Deus é eterno e é onipresente. Embora não sendo precisamente correto, talvez o mais próximo que possamos chegar de compreender o que isso significa é que Deus nunca teve início e nunca terá fim, e que Deus está presente, todo Ele, em todos os lugares ao mesmo tempo, o tempo todo.
Esse entendimento, embora com falhas, deve ser motivo de grande temor e apreensão para aqueles que não tratam Deus com a reverência que Lhe é devida ou que O deixam de lado como se não existisse e, ao mesmo tempo, motivo de grande alegria e segurança para os Seus filhos. Deus é uno. Quando oramos, não oramos para uma parte dEle, enquanto outra Se preocupa e está envolvida com outras coisas. Não. Cada um de nós ora ao único Deus, ao Deus indivisível e onipresente. Todo o Ser de Deus nos ouve e trata a cada um como se fosse o único. Creio que mais do isso é difícil compreender. Não nos esqueçamos: Deus é incompreensível!

Parte 1 (m)
Curiosidades a respeito desse assunto:
Quando Dagg (1794-1884) morreu, Einstein (1879-1955) tinha cinco anos de idade. Com Einstein o conceito de tempo foi mudado. Hoje fala-se em “malha espaço-tempo” e em “curvatura do espaço” e “dilatação do tempo”. A própria mensuração do tempo, como quarta dimensão, depende da velocidade em que o objeto se move e do campo gravitacional em que está. De acordo com os conceitos atuais, talvez não pudéssemos dizer que o mesmo momento ocorra em dois lugares ao mesmo tempo, pois isso dependeria da velocidade do observador em cada lugar e do que seria conceituado como momento. Obviamente, Dagg não poderia ter pensado nesses termos, mas sua ilustração continua sendo interessante.
Revistas e outros meios populares de divulgação científica, através dos quais a imensa maioria das pessoas forma seus próprios conceitos do que entende por ciência, tentam nos dar uma idéia dessas mudanças. P. ex., a galáxia de Andrômeda fica a quase 3 milhões de anos-luz da terra. A luz caminha a 300.000 km/s ou 1,08 bilhões de km/h. Viajando a 1,07 bilhões de km/h (ou 99,999999...% da velocidade da luz), alguém que fosse até Andrômeda e voltasse, encontraria a Terra, no seu retorno, quase 6 milhões de anos mais velha. Todavia, para quem foi, ter-se-iam passado apenas cerca de oito horas. Existe uma diferença na marcação do tempo entre o observador estacionário e aquele que se movimenta.
Todavia, calcula-se matematicamente, que, à velocidade da luz, o peso de um objeto seria infinito e necessitaria de energia infinita para ser deslocado. A essa velocidade o tempo pararia. No momento em que se alcançasse a velocidade da luz, segundo um físico americano, “o Universo lá fora teria acabado, mesmo que ele tivesse durado para sempre”. Tudo isso pode apenas ser imaginado e certas afirmações, na realidade, não significam nada.
Segundo uma dessas revistas populares, Einstein teria dito que “a distinção entre passado, presente e futuro é só uma ilusão, ainda que persistente”. Tudo o que está por acontecer, já está fixamente determinado. A mesma revista diz que “segundo as teorias aceitas por todo mundo, a paisagem do espaço-tempo é completamente imutável”. As citações acima servem apenas para nos dar uma idéia de como os conceitos variam com o tempo e quão difícil é termos uma noção do que significam espaço e tempo.
Além disso, o campo gravitacional de grandes massas altera a marcação do tempo. P.ex., um relógio submetido a forças gravitacionais maiores será mais lento que outro localizado em local de menor gravidade. Assim sendo, os relógios atômicos dos satélites utilizados para a localização terrestre (GPS), que estão a cerca de 20.000 km de altura, ficam mais rápidos que os relógios localizados na superfície da terra. Essa ação da gravidade, que leva a uma maior lentidão nos relógios estacionários da superfície terrestre, deve também alterar os processos biológicos dos seres vivos a ela submetidos.
Embora a velocidades muito elevadas (14.000 km/h) o efeito relativo seja de maior lentidão na marcação do tempo, esse efeito não é suficiente para neutralizar aquele exercido pela ação da gravidade. Os relógios dos satélites atrasam 38 milissegundos a cada 24 h e, se essa influência não fosse corrigida, o erro de localização na superfície da terra chegaria a 11 km/dia! Portanto, tendo em vista as alterações produzidas pela velocidade e pela gravidade, o tempo já não é mais considerado uma grandeza absoluta. Essas alterações são conhecidas como dilatação do tempo.
Em resumo, segundo os conceitos existentes a respeito dos assuntos acima ventilados, segundo Grudem, “a matéria, o tempo e o espaço precisam ocorrer ao mesmo tempo; se não há matéria, não pode haver nem espaço nem tempo”. Nesse sentido dizemos que Deus está fora do tempo e do espaço. Quando Deus criou o universo, foi criada a matéria e, com ela, o espaço e o tempo, conforme os conceituamos e até onde conseguimos concebê-los. Portanto, o tempo e o espaço não apresentariam existência independente em si mesmos, mas teriam passado a existir juntamente com a criação. Espaço e tempo são parâmetros aos quais toda a criação está sujeita, mas, obviamente, Deus não é limitado por eles.

Parte 1 (N)
A imutabilidade de Deus
Segundo Dagg, há grande semelhança entre os conceitos da eternidade e da imutabilidade de Deus. A eternidade exclui a idéia de sucessão e a imutabilidade exclui qualquer possibilidade de mudança.
A imutabilidade também está relacionada à perfeição. O que é perfeito não pode mudar para melhor nem para pior, pois se o pudesse fazer, não seria perfeito.
A imutabilidade de Deus diz respeito não apenas ao Seu Ser e atributos, mas também aos Seus propósitos ou planos. “Tu, porém, és sempre o mesmo, e os teus anos jamais terão fim” (Sl 102.27). Em Deus “não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tg 1.17). “O conselho do Senhor dura para sempre; os desígnios do seu coração, por todas as gerações” (Sl 33.11). “Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida... segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus...” (Ef 3.10,11).
 A imutabilidade não implica em impassibilidade ou insensibilidade por parte de Deus. O fato de Deus ser imutável em Seu Ser, atributos e propósitos não significa que Ele seja indiferente ao que se passa na Sua criação ou que não tenha algo que, em nós, conhecemos e experimentamos como sendo nossas emoções. Deus “é a origem das nossas emoções” (Grudem) e a Bíblia O descreve como sentindo algo semelhante ao que sentimos. “Não entristeçais o Espírito de Deus” (Ef 4.30). “De ti se alegrará o teu Deus” (Is 62.5).
Embora, pela análise do se passa conosco, possamos ter uma vaga idéia de aspectos que Deus revela a respeito de Si, na Sua Palavra, não podemos concluir que aquilo que é descrito a Seu respeito seja exatamente igual àquilo que se passa conosco. Não podemos nos esquecer de que, tendo sido escrita para nós, a Bíblia foi escrita em linguagem humana e se utiliza, o tempo todo, de expressões antropomórficas.
Muitos têm dificuldade de entender que Deus não mude nos Seus propósitos, pois a Bíblia diz que Ele se arrepende, embora diga, também, que Ele não se arrepende (I Sm 15.11,29). Ferreira & Myatt citam uma explanação de W.L.Lane, que diz que muita dificuldade vem do termo grego (metanóia) que, na verdade, não é utilizado nem uma única vez, no Novo Testamento, em relação a Deus. O termo hebraico utilizado (p. ex. em Gn 6.7 como em I Sm 15.11,29) tem outros sentidos, como entristecer-se, ter compaixão ou consolar.
Na realidade, ele significa, literalmente, suspirar. Nos contextos citados, a palavra tem o sentido de suspirar de tristeza ou preocupação.
Isso nem de longe significa que Deus tenha sido pego de surpresa pelos fatos ocorridos, mas é utilizado para que possamos entender um pouco daquilo que se passa com Ele quando Suas criaturas agem de determinada maneira. Mostra algo semelhante à tristeza que sentimos diante de certos fatos. P. ex., em Êx 32.12,14 (mesma palavra empregada em Jn 4.2), “arrepender-se do mal... não significa dizer que Deus fez algo errado e se arrependeu, mas que na sua ira resolveu não enviar o mal (o castigo) sobre o seu povo” (Lane). Não podemos nos esquecer dos antropomorfismos utilizados para nossa melhor compreensão. Segundo Hodge, “as passagens das Escrituras que dizem que Deus se arrepende devem ser interpretadas com base nos mesmos princípios que aquelas que dizem que ele cavalga as asas do vento, ou caminha pela terra. Estas não geram dificuldade”.

Nota: Não nos esqueçamos de que Deus é incompreensível, embora conhecível. Se nosso conceito a respeito da infinitude de Deus não inclui claramente a nossa incapacidade de compreendê-Lo, teremos dificuldade de aceitar aspectos que Ele revela sobre Si. Isso pode levar-nos a concebê-Lo de modo diferente daquele por Ele mesmo revelado, ou a atribuir-Lhe limitações absolutamente inexistentes, ou até a duvidar da inerrância das Escrituras. Tenhamos sempre em mente que muitos dos atributos, incomunicáveis e também comunicáveis, de Deus são incompreensíveis para nós. O Ser de Deus, o Criador, é transcendentemente diferente de tudo o que foi por Ele criado. Ele não requer de nós que O compreendamos, mas que O adoremos e O glorifiquemos para todo o sempre!


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